sexta-feira, 1 de julho de 2011

Quando você se torna quem é, você desafia as normas

Eu acredito em descontruir a forma como as coisas são feitas.

Na maioria das vezes estamos presos a um tipo de rotina, uma forma de viver que é compartilhada por todos, pois é assim que as pessoas vivem, e preferimos nós manter no caminho seguro por onde a maioria das pessoas anda. Fazemos isso por que é mais seguro viver assim.

Mas é claro que a maneira normal de fazer as coisas não é a unica maneira, e nem a melhor. Sanguessugas por muito tempo foram a "melhor" forma de tratar doenças, até que pessoas inteligente começaram a questionar essa prática. Mulheres foram mantidas por muito tempo fora do mercado de trabalho por que era consideradas fracas ou emocionalmente instáveis para muito empregos. As pessoas costumavam não jogar nada fora, e não existia essa cultura de produtos descartáveis, pois afinal era desperdício... espere, isso não era ruim.

Mas e se você pudesse mudar as coisas... apenas por ser quem você é? Sem ter que fazer grandes mudanças, apenas aceitar o que é e dizer as pessoas o que pensa? Acontece que esse foi muitas vezes o caso de minha vida. Apenas por começar a dizer quem sou e o que eu penso, as pessoas já começaram a ficar na defensiva, mesmo se eu não estiver atacando o que fazem.

As pessoas costumam achar que os julgo apenas por viver de forma diferente. Nesse ponto eles estão enganados, eu não julgo o que os outros fazem, mas tento viver minha vida de forma consciente. Muitas vezes eu falho, mas pelo menos eu tento.

Vou citar alguns exemplos de minha vida:

1 - Vegan - Dizer que sou vegan causa todo tipo de reação. Às vezes as pessoas comentam sobre a época que eram vegetarianos, ou como comem o mínimo possível de carne vermelha e de forma totalmente sustentável. Ou, do contrário, começaram a falar sobre como a carne é deliciosa, ou ressaltam que humanos precisam de comer carne, ou perguntam se como apenas salada. Eu não me importo com nada disso. Mas é interessante em como instantaneamente as pessoas dão mais atenção a isso do que nunca deram na vida. Quanto a mim, as razões são simples: eu faço isso por compaixão pela vida dos seres que são tratados como produto em nossa sociedade.

2 - Minimalista - Possivelmente essa é a atitude que causa mais reação das pessoas. Eles vão começar a falar sobre como vivem com pouco, ou como querem se livrar da desordem, ou perguntam como eu consigo ser minimalista tendo filhos. Estas são boas discussões. Precisamos começar a falar sobre qual é a real necessidade de consumir tanto (não apenas bens físicos, mas aplicações, informação, etc), sobre como nos tornamos consumidores em vez de simplesmente viver.

3 - Trabalho independente - Isso está se tornando cada vez mais comum nos dias de hoje, é claro, mas a maioria da nossa sociedade continua a ser empregado por uma empresa (ou desempregados). Eu escolho trabalhar para mim mesmo, ser meu próprio patrão. E agora que eu fiz isso, eu estou desempregado. Eu nunca vou voltar a ser um empregado, e eu estou constantemente tentando subverter pessoas que conheço, mostrando-lhes como romper com as cadeias de emprego, se está infeliz. Não há nenhuma razão para trabalhar para outras pessoas se não quisermos.

4 -  Não tenho carro - Aproximadamente há um ano atrás decidimos nos livrar de nosso carro. Já estávamos diminuindo o seu uso há algum tempo, mas quando finalmente resolvemos nos livrar dele foi algo libertador. As pessoas não entendem isso, elas vêem o automóvel justamente como símbolo da liberdade e conveniência, sem perceber que nos tornamos dependentes dele e o quanto ele pode se tornar uma inconveniência para nós, individualmente e como sociedade. As pessoas na maioria das vezes não sabem como reagir a alguém que voluntariamente vive sem carro.

5 - Saudável e em forma - É claro que existem muitas pessoas que estão saudáveis e em forma, possivelmente mais do que eu. Mas estou mais em forma do que a maioria das pessoas que eu conheço, e embora eu não os julguem, isso sempre se torna assunto de discussão quando os visito. Escolher ser fisicamente ativo é uma coisa radical em nossa sociedade. Estranho, eu sei.

6 - Anti-escola - Eu e minha esposa educamos nossos 4 filhos em casa, um fato que nos torna imediatamente estranhos. Mesmos que a escolarização obrigatória como a conhecemos seja uma coisa relativamente nova em nossa sociedade, tendo sido popularizada há poucos menos de um século atrás. Durante a maior parte da história humana a maioria das crianças eram educadas em casa e de alguma outra forma seus pais encontravam uma maneira de lidar com a questão da socialização. Os pais que mandam seus filhos para a escola sempre ficam na defensiva quando exponho essa situação, que é um pouco mais radical do que o simples ensino em casa. Nós acreditamos que nossos filhos devem aprender a aprender, a ser autodidata, o que não é algo incomum quando já somos adultos. Não acreditamos que qualquer pessoa possa criar algum currículo que realmente prepare nosso filhos para um futuro que é inevitavelmente imprevisível, ou para um mercado que está em constante mutação. Em vez disso eles aprendem a descobrir as coisas por si mesmos, aprendem a solucionar problemas, trabalhar por conta própria sem ter que dar satisfação a ninguém.

7 - Sem objetivos - Eu já escrevi sobre a radical decisão de desistir de objetivos aqui, aplicando os conselhos de Laozi. Mas a idéia de objetivos está tão arraigada em nossa sociedade (eu me incluo), que as pessoas passam a ter certeza que não bato bem da cabeça, quando falo sobre como é possível viver uma boa vida, sem cultivar objetivos. Como se os objetivos fossem a unica razão para nos sentirmos compelidos a fazer algo grandioso.

8 - Sem publicidade - O modelo de publicidade é antiga, mas ainda sim é a forma predominante de ganhar dinheiro na internet. Se você criar um blog e quiser ganhar dinheiro com ele, você provavelmente venderá anúncios no seu site. É possível fazer diferente? Claro. Há mais de um ano que tirei os anúncios e sobrevivo sem eles. Isso me força a criar coisas de minha autoria, e estou adorando.

9 - Socialista - Há pouco menos de um século você poderia adimitir que é socialista sem parecer estranho. George Orwell, BertrandRussell, Vonnegut, Einstein, Steinbeck, Hemingway, Jack London... foram todos os socialistas de um tipo ou outro. Mas agora o socialismo é visto como inímigo do "American Way of Life". Eu sou um socialista. Não me identifico muito com o socialismo totalitário ou estatal, estou mais para um mutualista ou anarquista pacífico. E tenho que acrescentar "pacífico" por que o anarquismo é normalmente relacionado a caos e derrubada de de governo através da violência. Eu sou um pacifista. Acredito que temos dado às corporações muito poder sobre nossas vidas e sobre a sociedade, e que deveríamos ter a liberdade de cuidar de nossas próprias vidas, sendo auto-suficientes e retirando o poder das corporações. Essa é uma posição que provavelmente trará mais perguntas do que respostas, mas as perguntas são coisas boas.


Nenhuma dessas coisa me definem, mas todas elas fazem parte do que eu sou. Todas elas desafiam o rotulo de normal de alguma forma, elas criam discussões e desenvolvem perguntas que de outra forma não ocorreriam. Eu acredito que é necessário criar essa discussão.

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Post Original: http://zenhabits.net/norms/

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